terça-feira, 6 de setembro de 2011

Carta para Luciana

Querida Luciana,

Ontem engendrávamos uma conversa interessante acerca da verdade, lembra? Espero que sim, pois o papo não saiu de minha cabeça. Refleti sobre alguns aspectos e queria dividi-los com você, pois, ali onde estávamos, havia muita interferência e, você sabe, muita gente de plantão a espera de qualquer coisa que depois sirva contra nós mesmas – se bem que não sou muito de me importar com isso, como já deve ter notado.
Lu, achei interessante quando falou que não gosta de mentira, mas não tem nada contra a omissão. Concordo com você em certa parte. Os moralistas acham que omissão é sinônimo de covardia, mas prefiro ser mais ousada. Para mim, os donos da verdade é que são os covardes, pois não temem as conseqüências. Verdade é uma palavra tão forte, Lu. Verdade me remete à moral, não, pior: me remete ao moralismo. Prefiro usar a palavra moralismo devido à conotação mais negativa/pejorativa. Sabe por quê, Lu? Porque moralismo é hipocrisia. O que é a verdade?  Quem de fato a detém? Quem me perguntou a verdade?
Ora,Lu, sabe como entendo tudo isso? Como um teatro de marionetes onde todos somos manipulados inexoravelmente por questões religiosas. Acreditamos piamente no pecado plantado nas nossas mentes desde quando a Igreja entendeu que poderia regrar toda a vida humana sobre a Terra. É um poder criado, planejado milimetricamente, que se não obedecido, acarreta sérias implicações de cunho único e exclusivamente moral.
Lu, honestamente, quem é melhor que quem? O que fala a verdade, mesmo quando não lhe é perguntada? Essa pessoa terá mais valor que eu no dia do Juízo Final, porque eu preferi me omitir? Então estou moralmente condenada? Valho menos que a santinha do pau oco? Apesar de todas as lições cristãs que tenho recebido ao longo da minha vida, é muito difícil, para mim, subestimar minha razão e minha natureza.
Veja bem, não quero ser teimosa nem intolerante, posto que me vejo como uma pessoa sempre pronta a aprender alguma coisa. Você me conhece há pouco tempo, Lu,mas já deve ter notado que não sou uma pessoa “fechada”, nem do tipo “não me arrependo de nada do que fiz”. Sou aberta e afirmo alegremente que me arrependo de um monte de coisas sim. Entretanto, como contei ontem a você, “eu não tenho compromisso com a verdade”. Quero que ela me encontre naturalmente, mas também não quero ser tolida de nada por conta da moral, ou melhor, do moralismo circundante nessa sociedade hipócrita e injusta.
Espero desta forma ter finalizado minha posição acerca do tema de nossa conversa ontem, pois precisei me retirar antes que terminássemos. Fico aguardando sua finalização também, visto que só nos encontraremos na semana que vem. Se não quiser escrever, tudo bem. Vá refletindo e aí, conversaremos pessoalmente.
Um beijo e boa semana + feriado procê.

Ellaine

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