sexta-feira, 15 de abril de 2011

Coisa mais linda!

Gente, em tempos tão alarmantes de violência como os que temos vivido, que tal pararmos um pouco para curtir poesia? Li há pouco tempo esta aqui do Mário Quintana e quero dividir minha alegria com vocês:

Poema transitório


Eu que nasci na Era da Fumaça: __ trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
        pastéis
pés-de-moleque
sonhos
__ principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem
passar;
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ali ficar
morando
sempre ... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta
vida é urgente
no entanto ...
eu gostava era mesmo de partir...
e __ até hoje --- quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as
estrelas.


Mário Quintana. Baú de espantos. Rio de Janeiro,
Editora Globo, 1987

Lindo, não?
Ah, quem pode resistir à beleza da poesia?...

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